Janeiro 12, 2016 / 1517
Começamos o ano a destacar o Atleta com mais provas registadas em Allinrace no final de 2015.
Alexandre (Fiorio nas tabelas Allinrace) partilhou connosco como tudo começou.
Tudo começou com uma mancha no quadrante superior do meu olho
esquerdo e apontava para uma possível conjuntivite. Algo que um simples
conjunto de medicamentos faria uma memória do passado, porém, a conjuntivite
não foi o meu diagnóstico. Como não passava decidi ir ao serviço de urgências
do CHUC – Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra – e os exames começaram.
Foram feitos exames que me fizeram sentir um astronauta, as ressonâncias
magnéticas tornaram-se a minha nave espacial que me levaram à confirmação de um
diagnóstico. O diagnóstico que não entendi. Tinha 25 anos e não consegui
entender o que me estavam a dizer.
O relatório tinha escrito e o médico confirma: “Alexandre,
tem esclerose múltipla...” seguiu-se um silêncio e eu sei que o médico
continuou a falar porque conseguia ver os seus lábios a mexer... Eu tenho esclerose
múltipla... consegui voltar a mim e fazer questões sobre o que já me tinha sido
dito, recomeçaram por me dizer que era uma doença neurodegenerativa de caracter
crónico. Desta vez compreendi, disse-me crónico, isto é, algo para o resto da
vida, mas eu era novo como podiam dizer que ia ter esta doença para o resto da
minha vida, que sentido podiam fazer aquelas palavras. O que é facto é que
quando tinha 25 anos de idade fui diagnosticado com Esclerose Múltipla.
Tudo na minha vida parecia ter mudado, não conseguia entender
o porque de eu ter esta doença, apenas fazia sentido o medo, o isolamento, a
comida e a minha casa. Este estado prolongou-se por algum tempo até que a
balança diz que tenho 116Kg, não os senti chegar mas começava a sentir-lhe o
peso e os muros que continuava a manter a minha volta.
Até que, por acaso ou
por destino, descobri na internet uma notícia de uma dinamarquesa, Annette Fredskov,
que tinha corrido 366 maratonas em 365 dias. Mas o que partilhava eu com esta
atleta? A doença... e é aqui que a minha mente dá a volta porque se aquela
senhora que tem a mesma doença que eu, consegue correr 336 maratonas, ter a sua
vida quotidiana, porque não conseguiria correr 1 maratona?
Assim, surgiu em 2013 o objetivo de correr a maratona do
Porto em 2014.
Foi um ano em que aprendi muito sobre mim, sobre os meus
limites, aprendi a manter-me fiel aos meus objetivos e a lutar diariamente para
os realizar. Encontrei na corrida a minha aliada e a fadiga, sintoma natural de
quem tem EM, reduziu drasticamente.
O meu objetivo levou-me até o projeto da EM´Força, que
pretende juntar a prática saudável de desporto, ajudar a melhorar a vida de
quem tem EM e correr por aqueles que a doença já não permite. O seu propósito
prende-se com a divulgação desta doença, que em grande número de casos é
incapacitante fortemente imprevisível, para combater os efeitos negativos desta
doença. Este projeto enquadra-se dentro da Sociedade Portuguesa de Esclerose
Múltipla – SPEM – que presta o apoio à população com EM e aos seus familiares
para melhorar as suas condições de vida. Começa a minha aventura nas corridas e nesse ano faço a
corrida do dia do Pai. Foi uma ansiedade enorme, mas o que é certo é que nunca
mais parei! O sentimento de liberdade e superação que a corrida me trás fez com
que nunca mais parasse e a minha vida, finalmente, começou o processo de
viragem.
Chegou o dia da maratona.
O nervosismo era maior que eu, o medo de não conseguir, de
não ter a preparação correta... eu sabia que estava pronto, mas seria capaz?
Será que ia cumprir o incentivo que me deram que era o 1.º português com EM a
correr uma maratona?
Dá-se o tiro de partida e as minhas pernas começam a
correr... era uma imensidão de pessoas e todas com o mesmo objetivo que eu e,
assim, começa a minha 1.º maratona.
Marquei o ritmo, senti
que era o certo e o mais adequado, pensei eu, mas a maratona é implacável e a
partir do km 33 conheci a famosa “parede”, foi uma luta dantesca... fica para a
história o tempo de 3h48m30s.
O ano de 2014 fica para sempre na minha memória, como o ano
em que me cansei de me cansar e que decidi lutar pela minha vida para não dar a
vitória à doença.
Após o rescaldo e de absorver o meu feito, decidi que em 2015
iria fazer três maratonas num mês, contudo, parece claro que não sabia onde me
estava a meter. A ambição estava lá, o treino também mas existia a necessidade
de ajuda quando surgem os Wikaboo, na pessoa do meu treinador Nuno Barradas.
Foi quem me orientou de uma forma magnífica em que as primeiras palavras foram
fundamentais, “os sonhos são para se viverem”.
Chegamos a Outubro e começa a Maratona de Lisboa, uma bela
prova, mas que me desafiou como nunca tinha sido desafiado até então, ao 17.º
km apercebo-me que estou com problemas de estomago, a partir daí foi um
sacrifício, uma luta constante, mas nunca me passou pela cabeça desistir, “nem
que tenha que rastejar”. Uma semana depois, o tiro de partida foi em Frankfurt,
uma prova que correu às mil maravilhas, onde a “parede” não existiu. Chega o
momento de regressar ao Porto, tinha toda a lógica acabar onde esta minha
odisseia começou. Foi uma prova difícil, onde paguei, claramente, o esforço das
outras duas, os últimos 12 km foram difíceis, mas como tudo na vida, não foram
impossíveis.
Para 2016, os objetivos passam pelo triatlo, uma nova
odisseia. Sei que vai ser bastante exigente, mas a primeira maratona o foi e já
lá vai.
Quero apenas deixar uma mensagem, a família e os amigos são
fundamentais, mas esta necessidade de mudança tem que partir só de nós, sem isso
nada feito. Como eu encontrei a corrida, espero que vocês encontrem o que vos
faz felizes.
Obrigado Fiorio pela inspiração.